América Latina: MAIOR INTEGRAÇÃO ENTRE OS PAÍSES LATINO-AMERICANOS PODE SUPRIR A DEMANDA POR ENERGIA
- nossavozfoz
- 19 de out. de 2015
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Para equacionar problemas existentes na matriz de energia na América Latina, em especial na América do Sul, uma solução seria promover maior integração energética entre os países da região, por meio de acordos de cooperação bilaterais, utilizando os diferentes recursos potenciais de cada um.
Essa foi uma das conclusões do Fórum Energia e Mobilidade da XXVI Conferência CEAL, encerrada na sexta-feira (16), no Rio de Janeiro. O fórum foi moderado Carlos Mariani Bittencourt, presidente do Conselho de Administração da PIN Petroquímica.
"A qualidade da energia precisa alcançar níveis mais altos e a segurança do abastecimento tem que ser garantida. E a integração da energia com os países vizinhos pode ajudar a trazer soluções, uma vez que a América Latina se sobressai em relação aos outros continentes por sua potencialidade energética", disse Eduardo Eugênio Vieira, presidente da Firjan - Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro.
Para que essa integração ocorra de maneira sustentável, ele elenca três pilares importantes: existência de recursos energéticos diversificados, regulação adequada e planejamento conjunto dos projetos e infraestrutura. "Esse tripé irá resultar em custos competitivos e maior eficiência operacional e econômica do sistema elétrico com menores impactos ambientais e sociais para os países".
Além disso, para Vieira, o Brasil demanda novos players que possam atuar em conjunto nos projetos de infraestrutura energética. "O Brasil tem um grande leque de projetos a serem implantados, que podem intensificar alianças com os países vizinhos", avaliou. A previsão de investimentos em geração e transmissão da ordem de US$ 21 bilhões até 2018 e depois desse período há aportes estimados em aproximadamente US$ 27 bilhões. "Esses investimentos podem, inclusive, ser uma porta de entrada para esses parceiros".
Ivan Botelho, presidente do Conselho de Administração do Grupo Energisa, comentou sobre o avanço de integração que ocorre na América Central, com o projeto SIEPAC - Sistema de Integração Energética dos Países da América Central, que consiste na construção de uma linha de transmissão elétrica com 1790 quilômetros de extensão de 230 kv, 28 baias de acesso e 15 subestações em seis países: Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Porto Rico e Panamá. Com essa linha instalada, haverá a disponibilidade de uma rede segura de transporte de energia de até 300 MW.
No entanto, Botelho alerta que, em especial, na América do Sul, há uma série de desafios, como os entraves geográficos e os regulatórios, o alto custo de integração e a viabilidade técnica, que precisam ser vencidos para iniciar uma maior interligação energética entre os países.
Projetos futuros de integração
Durante o Fórum Energia e Infraestrutura na XXVI Conferência CEAL, o presidente da Firjan falou que está em discussão a geração de energia elétrica integrada entre Brasil, Bolívia e Peru, a partir da interconexão de quatro usinas hidrelétricas, sendo uma ainda a ser construída na Bolívia. Essa configuração representaria um marco de integração elétrica na região, contribuindo para economia de escala na produção de energia, e na sinergia hidrológica entre os países. "Para que se torne realidade, contudo, serão necessários acordos econômicos, comerciais e operacionais para viabilizar o funcionamento das usinas em cascata", explica.
Ricardo Simões, diretor de comercialização da Odebrecht Energia, acrescenta que para essa nova onda de integração energética funcionar, é preciso levar em conta cinco fatores: a preservação da autonomia da política energética de cada país, a precedência de acordos bilaterais, o modelo de negócios claro, o compartilhamento de benefícios e a segurança do suprimento.
"O que não pode ocorrer é o fato de sacrificar a integração ao ter qualquer dificuldade de suprimento interno. Para isso, é preciso transferir o mesmo risco de suprimento do país de origem para o comprador. Por exemplo, se o Brasil exportar energia para a Argentina e perceber que haverá um contingenciamento de 5%, isso também deve ir para as exportações. Com isso, há a criação de uma regra", explicou.
"Assim, o crescimento dessa integração é orgânico e paulatino, cujas bases estarão nas oportunidades que virão", acrescentou.
Essa avaliação de Simões é decorrente da primeira onda de integração que ocorreu há algumas décadas e que foi bem-sucedida, em especial, por conta dos acordos bilaterais precedentes entre os países envolvidos. O caso mais conhecido é a Usina Hidrelétrica de Itaipu, cuja capacidade instalada é de 14 mil MW.
"A experiência do trabalho em conjunto, o exercício do diálogo entre os dois países e as relações bilaterais são demonstrações que podemos trabalhar muito bem juntos e integrados", afirmou José Sanchez, diretor técnico da Itaipu Binacional, ressaltando a importância desse empreendimento na área de energia para os dois países, que adotou processos de engenharia inovadores em sua construção.
Gilberto Marin, presidente da ILER - Impulsora Latinoamericana de Energía Renovable, do México, destacou que a discussão sobre a matriz energética nos países latino-americanos é vital. "Energia é uma questão de soberania em uma nação", pontuou. "E a intenção de integração é louvável porque isso não é fácil", continuou. Sobre a matriz energética mexicana, Marin contou a mudança no pensamento do governo está levando o país a não ter mais problemas nesse quesito.
Para Antonio Teixeira, diretor executivo do Banco Mundial os acordos bilaterais podem e devem ser realizados. Em sua apresentação, ele ressaltou ainda que os bancos multilaterais de crédito estão procurando a maneira mais adequada de alavancar recursos privados para investir na infraestrutura dos países, uma vez que os governos da América Latina não têm espaço fiscal para continuar liderando esse processo.
O presidente da Firjan chamou atenção ainda a necessidade da criação de um eixo latino-americano que trará, além da integração energética, a integração industrial, tecnológica e comercial.
"Para isso, precisamos fazer o dever de casa, que é implementar um planejamento incorporando os projetos internacionais, além disso é importante abordar questões como barreiras alfandegárias para ampliação do comércio de bens e serviços, sistematização de marcos regulatórios e a criação ou fortalecimento de instituições ou comissões de governança que podem ajudar na realização de uma integração energética sustentável e suficiente. Temos que abraçar o desenvolvimento da integração energética de forma gradual, superando os entraves geográficos, regulatórios, e institucionais, com foco na redução de custos, na melhoria da qualidade do abastecimento, e na segurança energética dos países participantes".
(Com MAXPRESS)
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